quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

E a injeção vem por último, carneiro, e a seringa dorme rubra, e a sinusite que me faz mais pesado é a mesma que te traz alívio, e aquelas feridas que ainda se abrem espontaneamente vão enfim parar de sangrar, carneiro, e a carne que amolece na minha frente, não tenho certeza se conseguirei pensar nela como se fosse sua, e de dez em dez a gente des- em vez de, carneirinho, e o vasto que deixa pra trás devasta os que restam, e o que resta de você, Leão, é bem aquilo que nos curará, e mesmo que você tivesse sido gente, pode ser que jamais percebesse que não éramos nós que te tratávamos, e sim o contrário.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Se perguntarem aonde fui, diga-lhes que não sei, mas que não tenho intenções de voltar. Gastamos tempo demais ao léu da pior das paralisias, acorrentados a sentimentos que, pela falta de movimento, nos fazem adoecer. Não busco um lugar, busco entrar mais em contato, porque gastamos tempo demais ao léu da pior das paralisias, esquecendo por completo o que nos rodeia, esquecendo-se até de nós mesmos. Que tipo de olhar tem alguém que é invisível a si mesmo? Mais contato, por favor.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Violento; turbilhões
brancos ascendem em erupções fantasmagóricas, ao passar
da brisa, sem arranhar, ao passar pela garganta.
Erosão natural dos laços, das cordas;
acorda, de olhos entreabertos, e vê
nas pequenas coisas, como abrir a caixinha do sabonete,
na dor e outros prazeres, até mesmo
na não-loucura dos ditos loucos, que o exterior está escancarado
para quem quiser apreciá-lo
e escancarou-se antes mesmo de você
decidir romper as barras que encerravam seu peito,
pobre coração deficiente de vitamina D.
Violenta então a libertinagem dos sonhos secos
e fertiliza a própria liberdade, pouco
importando-se com aqueles que tão arrogantemente virão
questionar quem é ele para sentir-se tão livre.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

– O que você vai fazer agora?
– Eu serei a mudança.
E então ela foi a mudança.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Se, por ventura, eu não atravessar a noite, saiba que tentei. Apesar de, conquistei; vislumbro as faces da terra desconhecida. A febre me consome e é demasiado desgastante lutar contra a maré que me devora de hora em hora, e a cada vez que desce leva um pouco de mim com ela. A esta altura, o mais sensato é reconhecer a febre e a maré, aceitá-las, assumi-las, tornar-me enfim. Pois a história que me cerca é cheia de parábolas, mas não é, por si, uma parábola. Desconheço verdades, vi seus marujos mais experientes se perderem nas promessas de sereias e suas coxas efêmeras, orgias instantâneas e tóxicas, e lamento dizer que me incluo entre eles. Capitão, não siga meus passos. Capitão, aprenda conosco. O destemor não nos trouxe nem pedras nem metais preciosos nem tesouros esquecidos nem vida eterna. Seja mais valente. Seja, então, mais. Pois ser menos jamais trará a terra desconhecida à luz da lucidez. Seja, Capitão, tudo aquilo que eu não consegui ser. A febre me consome e é demasiado desgastante lutar contra a maré que me devora de hora em hora. Cedo cedo. Mas te aguardo, junto aos outros, nos seios da terra desconhecida.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Pele intangível. Me desenreda,
vai fundo, vence o mundo,
a quimera invencível.
Nó de linhas nuas,
a aranha que nos emaranha;
rima suja.
Uiva e ruja, a lua é
somente tua.
Me desenreda, vem fundo.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Cura.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Venho buscando as palavras certas. É incrível como elas se escondem bem. Ainda não as desvendei e pode ser que eu nunca as encontre. Não importa. Mas como começar? Talvez seja como uma corrente elétrica que atravessa o peito e faz a ponta dos dedos formigar, ou então como se um trovão tivesse se alojado entre os pulmões, entre-camadas. Melhor, começarei pelo começo. Um convite, tão somente um convite. Ela se fez presente, primeiro como um doce murmulho. As ondas cresceram em coragem e tamanho, e com elas o murmulho deixou de existir e deu silêncio para que a melodia enfim pudesse ter início. Como se sua presença não bastasse, ela, à medida que as ondas se derramavam todas sedosas e reluzentes pela areia, espalhava ramos que se enraizavam através dos poros, das fibras, do que tenho de mais humano. Me furta os sorrisos mais secretos, as pétalas. Ela sempre foi, sempre soube, ela nunca será nem mais nem menos, nem menor nem maior, apenas o que ela é, a pequeneza que nos engrandece.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Vertigem.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Minhas pernas derretem, derretem e se transfiguram num mar azul como a aurora. As ondas seguem ao horizonte, serenas, e lá longe, depois do precipício, do abismo da cachoeira-fronteira, um globo de ouro e fogo é içado por um fio invisível, tão invisível quanto as cordas que me sustentam. Mas não há ventríloquos. Somos somente nós, criatura e sol, nos erguendo no mesmo compasso. Arquitetos do destino. Entre um e outro, o Vale da Sirena. Que sol bonito, que cores mais brilhantes, que brilho mais colorido, que bela sina. Venha a mim através das águas mornas. Não tema.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

A vida não quer que sejamos destemidos. Ela exige provas de bravura; quer que tenhamos medo, que com o tempo adquiramos a capacidade de superá-lo. Nunca esquecê-lo, mas aprender com ele. De modo que, de ano em ano, verão sobre verão, nos tornemos mais valentes. Mais que isso, a vida nos ensina a não temer a própria voz, as palavras que se negarmos estamos nos negando a nós mesmos. E não me refiro a sílabas soltas. A voz transmutada em ação nos realiza como pessoa.

É o que a vida quer, e o que eu quero dela não é tão diferente.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Componho canções de valentia e ousadia à faminta boca do coração. Se ficar para sempre, esperarei para sempre. A última coisa que desejo é ser refém dos ponteiros. Que existam, que dêem suas voltas infinitas, que pesem sobre os peitos alheios; longe. Porque se estiverem perto, aí sim, inevitavelmente, eu mesmo ganho distância daquilo que mais deveria amar, minha própria pessoa. Jamais esquecer de zelar pelo suave e não-amargo, jamais esquecer da vigília de uma manhã que se aproxima sem receio, sem insegurança, sem medo de ter medo; o nascer de um dia que não é apenas o nascimento pelo nascimento, mas o revigorar de mim mesmo, sim, aquele a quem aprendi a amar sem dúvidas.

sábado, 10 de setembro de 2011

E ao correr ao fundo do mar,
trevas que faíscam em vida,
os sonhos desejo alcançar;
descubro que a imaginação não está perdida. As medusas vão iluminando o caminho de uma rotina corrida e algo que não consigo identificar, meus sentimentos oscilam entre partir e ficar.
Através de lençóis oceânicos
os saltos me levam adiante
e sei que não preciso de anzóis
para que a baleia fulgurante determine o rumo da jornada. Ao sabor dos quatro ventos, sigo o sul sudoeste, rumo à terra celeste, à terra não-contada talvez até inventada (e imprudentemente fértil).

De pés agora desvendados
meus olhos não hesitam,
aceito os céus como meu chão
ao contar os últimos passos dados. A baleia que está firme na mão me guia pelas ondas de som, encaminhando-me às águas de onde provi.

(Daniel e Laís / Setembro de 2011)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

o que era pouco se fez tanto
quando o passado negou ao presente
uma história que não fosse cíclica.
o tão somente doce ficou meio amargo
assim que a certeza avistou a dúvida de outro.
o que era dourado desbota em cinzas
e sabem os céus que não gosto delas,
então de braços abertos eu espero,
nem fantoche nem vira-lata,
pelo que pode ser o último entrelaço...
...muita paciência, sim, é hora de muita paciência...
...e apesar de descobrir que meu amor vence o tempo,
atravessá-lo é mais derrota que vitória.
só me resta aceitar as condições e regras,
o eterno que eu vou levar incondicionalmente.
está além das minhas vontades, não há fim

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Não sou cirurgião e muito menos pretendo enfiar o bisturi em qualquer pedaço que me pareça ruim. Sombras existem. Aceite-as. Quanto mais eu insistia em ignorá-las, ceifá-las, vencê-las, mais elas cresciam, se multiplicavam, mais elas me agarravam pelo tornozelo e me acariciavam pelos lados até me tragarem por inteiro. Eu negava, no entanto, que a carícia era prazerosa. Então eu reconheci o prazer, reconheci a parte de mim que tanto me enojava, o que talvez um dia eu tenha chamado de vazio, depois de lugar amaldiçoado, mal-assombrado, um tsunami ou avalanche de aparições que me acertavam e engoliam nos momentos mais inesperados, nas horas mais inconvenientes, na calada da noite ou numa tarde ruidosa. Eu enfrentei o que me devorava vivo. Tive que me encarar, sem receio, sob camadas e camadas de pele, além do que é palpável, tangível, compreensível pela lógica tradicional; tive que questionar minhas próprias tradições e costumes, pegar naquilo que me escapava por entre os dedos, ainda que fosse eu quem fugisse do confronto. Foi então que eu compreendi: eu tinha me dado as costas. Mas agora, enfim de frente, as sombras a um palmo de distância, tudo fazia sentido. A dor pode curar, ela é minha força. E nada mais vai transformá-la em confusão.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Parece que foi tempos atrás e parece que foi ontem. Quando cruzo com uma ambulância, os gemidos sussurram ao pé do ouvido, a recordação de um grito abafado me atinge na contramão. Mas não sou eu, desnorteado, quem vacila desaparecer a cada curva. Não sou a vítima. Laço oportunidades e lanço os dados, os pés agora firmes na terra nua, e a cabeça, ela sim e somente ela, brincando e dançando entre as estrelas.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011


Lembra do nevoeiro?

domingo, 7 de agosto de 2011

Dourado. Primeiro, o oceano de ouro que borbulhava pelo corpo inteiro, alimentando as células. Quer dizer, borbulha. É infinito, como uma espécie de mar subterrâneo que se estende de horizonte a horizonte, e o infinito reluz à incandescência de si mesmo. Infinito como o universo. Em segundo, a corrente de faíscas. Ela mostra o caminho. Não sei por que demorei tanto para compreender a semelhança, o parentesco. Não é uma coincidência. Flui de um para outro, continuamente, em expansão, sem fim, nunca um fim.
Está em mim, mais vivo.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Estar vivo como um leão na alma do deserto - arder ao estalar de qualquer faísca, mas saber para onde lançar o fogo -, pois ele, felino e solar, distingue bem as coisas que crepitam das que são meramente consumidas, as que tentam das que desistem, as que dançam das que tropeçam, as que amam das que não sabem amar. O mundo é dividido em dois tipos de pessoa: existem as que vivem na realidade, e aquelas que se atrevem a derretê-la para entortá-la, moldá-la. Ser humano é comover - mesmo que custe a pele às feridas, a carne à deriva - e isto é para os que percebem o movimento. Não é por nada que comover se escreve assim.

domingo, 17 de julho de 2011


Uma vela boiava solitariamente por entre as ondas, coberta de trevas. O véu tempestuoso rasgava os céus em dois ou quatro ou quatrocentos pedaços de noite. Relâmpago. A despeito da má sorte, a vela continuava acesa. Não tinha escolha. Relâmpago. Maré alta; a praia já vacilava desaparecer no horizonte como uma linha acinzentada. E a vela acesa. Relâmpago. Mas nem os prantos da tormenta extinguiriam o fogo. Ardia inflamado pela valentia, obstinado. Embora ele e a vela soubessem muito bem que não se comparavam a nenhum farol, jamais desistiriam. Relâmpago. Continuariam acesos, iluminando, aquecendo, tentando, tentando e tentando afugentar a escuridão. Porque como tão bem sabiam de seu tamanho, sabiam bem demais qual era seu valor.


Que as palavras sejam velas ao mar.

Que vençam a noite.

Que, enfim, cantem de triunfo.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Então se fez o silêncio.
– ...
E as formas que antes entrevia, agora ele enxergava completamente. Não com os olhos propriamente ditos; não com estes globos que ainda carregava no rosto, espremendo-lhe o nariz. Dispensáveis. Mas sim com os olhos, os que recém descobrira ter. Bastavam-lhe.

domingo, 10 de julho de 2011

Sinto a vida pelo que penso ser o mais sensato, através da imaginação. Enfim fiz as pazes comigo mesmo, com o caos aqui dentro, com as probabilidades dementes. Razão e paixão se unificaram; é preciso saber por inteiro. A dor, não, não mais, porque nem ela me impede de admirar até mesmo nas madrugadas chuvosas e entregues à própria sorte o reflexo do sorriso que guardo a sete chaves. Eu aprendi a não dar de mão beijada tudo que tenho de bom. Sim, não só é preciso saber por inteiro como também é preciso dividir o intacto, e mantê-lo assim. Compartilhar sem perder. Por um momento, admito, gozar de algo tão sinistro como a dor me pareceu indiferença, como se o sentido tivesse se perdido ao longo das noites e nada mais fosse capaz de extrair qualquer tipo de sentimento de mim. Mas o erro está no verbo; sentimento não se extrai. Aqui dentro o sentimento se manifesta, flui e cria. E há consequências. Se é um passo que me aproxima do miolo, o mesmo passo me afasta do ruído estrangeiro. Não reclamo. Tudo para não ser um forasteiro da minha terra. Pois afinal, gente-fogo ou gente-água, fogo de água ou água de fogo, reconhecer a diferença entre a cachoeira e o lago é fundamental, ainda que ambos sejam transparentes.

sábado, 25 de junho de 2011

Sabe, às vezes parece que eu estava sempre de luto por alguma coisa, qualquer coisa, coisa nenhuma. E é claro que o luto é necessário. Luto por maus hábitos, hábitos que um dia foram bons mas hoje não servem mais. Mutantes. As vestes, de repente, não cabem, simples assim. O curioso vem com a partida do luto. Porque se prender a ele é tão fácil como tropeçar e, por um instante, ainda que um instante muito masoquista, desejar nunca se erguer novamente. São as dúvidas sussurradas pela sarjeta que nos enchem de nada, mesmo que a origem dos sussurros seja a incerteza de nossa própria natureza. Alimenta-se, de mãos vazias, o medo, íntimo e infinito. Mas quando, finalmente e muito obrigado, reergo-me para longe da boca gêmea e traiçoeira que a sarjeta pode ser, aquele tremelique dos cabelos aos pés, não há nada mais a fazer senão mirar o próximo encontro de avenidas e seguir naquela direção, passo a passo, com as pernas cada vez mais firmes, cabeça fria, o coração mais e mais pleno, e um espírito que já se tornou implacável mas flexível.
Teus olhos de mar abocanham. Oceanos de azul, faces rubras. Espiadelas, olhares que jamais se cruzam.

sábado, 18 de junho de 2011

Relembrando o objetivo: conquistar o universo interior.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Ontem terminou com boa noite, mas hoje é assim que vai começar. Os motivos de eu ainda não estar dormindo são outros, distintos, mais nobres. Uma espontaneidade que se enraíza no peito. E isto vai além do suficiente. Mas, agora, falando seriíssimo, imagina a dor que essa tartaruga não vai sentir nas costas quando acordar na manhã seguinte...

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Estou tentando dormir há duas horas e meia, mas não consegui, tem um peso, um quê de sujo, talvez, será, como, quando, toda essa tão velha angústia pelas incertezas. Não costumo ter insônia... ou qualquer dificuldade em relação ao sono. Copo d'água, cama, três páginas de X-Men, adeus à lâmpada e cara no travesseiro, qualquer reflexãozinha passageira e pimba! coma até o dia seguinte. Sim, sou desses, cobertas + pijaminha gostoso + olhos semicerrados = tiro e queda. Especialmente a parte da queda. Menos hoje, hoje não teve queda nenhuma, só agitação e coceira (deve ser psicológico) e uma ânsia tão incontrolável que eu me arremessei pra fora do colchão num salto bastante inconseqüente e desci as escadas praticamente rolando, liguei o monitor e corri pra cá, quase um ciborgue que vem despejar os últimos volts da bateria para, enfim, apagar no tão desejado breu de sonhos. Sei lá. Deve ser tudo culpa desse corte no dedo, natação, raia nova, borboleta, aquela desatenção. Se bem que, na verdade, não é tão ruim. Não dá pra reclamar, não assim, não com o Simba dos últimos meses. Chega a ser falta de respeito. Pobre cão, cheio dos machucados desde o início do ano, com mais momentos depressivos que alegres, imagino eu. Mas hoje ele quis brincar, hoje ele tentou pular em mim, me arranhou com a patinha pra eu fazer carinho, voltou, disparou pela varanda e entrou na cozinha naquele desespero canino meio esfomeado meio carente, o tal abajur balançando de lá pra cá, esbarrando nos bancos, na mãe. Pois é, o abajur não faz distinção entre suas vítimas. E acho que já estou indo longe demais, de pseudo-insônia a abajures mal-intencionados. Vou tentar dormir. Na pior das hipóteses, venho pra cá de novo e procuro por alguma simpatia ou macumba ou disk-ajuda. Boa noite.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Sobre a cura que se busca e não se encontra por não existir nada a ser curado.
Uma pausa para sorrir. A pausa se estende, ininterrupta.
E tomara que a lâmpada continue acesa
e a primavera não se vá
e o depois não me cegue
e o agora me encoraje
e o antes me leve a acreditar que
o bom-humor será eterno
e a corrente de faíscas que ilumina-guia-sustenta-nutre nunca parará de atravessar meu peito
porque o nó não era de chumbo mas sim de sombras.
A cada fibra de seu corpo que fervia em uma reação exacerbada, tardia e contraditoriamente pontual, Amanda tomava consciência da transformação que acontecia em sua vida. Era desagradável, porém um mal necessário. Tão necessário quanto, mesmo a contragosto, abrir os olhos de manhã cedo e ter que encarar mais um dia.

sábado, 28 de maio de 2011

Pela preservação, (desap)ego, um pequeno (des)amor.

sábado, 21 de maio de 2011

A felicidade é um bichinho muito curioso. Tem gente que busca, tem gente que a gente vê que não sabe cuidar, que maltrata, que não dá valor, esquece de trocar a água. E tem até gente que tem. E sabe disso. Felicidade existe. Felicidade é simples (não que simples aqui seja sinônimo de fácil ou superficial). Não é bicho-papão, não é nenhum monstrinho escondido embaixo da cama. Tudo isso pra dizer que ninguém precisa ter medo da felicidade, ok? Porque de vez em quando toda essa definição de "buscar a felicidade" me soa como conversa de quem está apavorado e não se dá conta. Medo de ser feliz não é coisa de gente doida (embora pareça). Existe, existe tanto quanto a própria felicidade. No final das contas, é um gigantesco desperdício de energia sair à caça da dita-cuja (dizem que é um animal bastante exótico) só para descobrir que qualquer chance de ser feliz parte de dentro. Ou não, pode ser que não seja um desperdício. Desde que se descubra.

domingo, 15 de maio de 2011

Uma vez perguntei por que nos sentíamos espectador e espetáculo ao mesmo tempo. Hoje aceito o que antes via como incoerente. Naquela mesma vez, me convidei para juntar-se a mim "na última dança flamejante, aquela cuja espera foi tão curta". Lembra? O que pedia e peço não é o impossível, somente o realizável. Sem tantos sacrifícios. E embora "realizável" soe bastante leve, sei que "somente" não é capaz de reduzir o peso. "Somente", aqui, não abrevia. Não que eu queira ser abreviado. Não que eu queira fugir de qualquer um dos meus eus. E em momento nenhum os sentirei como fragmentos. Todos partem da mesma essência. Isso tudo me leva a pensar que talvez, realmente, o mais saudável seja desistir. Não existe maneira alguma de se esquivar das dores. Elas não são parasitas. Elas não são lançadas em nossa direção por maus intencionados. Nós mesmos as geramos, espontaneamente. São nossas criações, nossos filhos e mentores. Aprendemos com elas. A criatividade sempre sacudirá gavetas que desejei nunca mais abrir. A imaginação dói. Porque, de novo na recordação do "uma vez...", eu nunca me esqueceria de ter afirmado que "o pior dos males é aquele que inventamos". Não que a solução seja parar de inventar. Não adianta nem tentar controlar. Em vez de implorar por uma cura, até mesmo em vez de pedir ou querer, eu simplesmente fecho os olhos com confiança e deixo todas as partes onde já estão, unidas, mesmo que na maior fração de tempo essa não seja a impressão. Não posso esperar por mais. Apenas que permaneçam.


sábado, 14 de maio de 2011

Tem gente que diz que razão e emoção se contradizem, mas o mais irracional é não sentir.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Sabe quando você decide atravessar algo? Você dá o primeiro passo para subir na ponte. Você caminha, caminha, caminha, e caminhando você acredita estar, a cada vitória, um passo mais próximo do outro lado. Você não olha para baixo. Espiar não vale. Além do que, você sofre de vertigem, se esqueceu? Então você segue adiante. Os minutos se tornam uma eternidade e os anos voam em um piscar de olhos. Mais ou menos por aqui você se faz a pergunta.

"Não teria sido mais fácil ignorar o medo de altura e usar minhas asas?"

Mas isto não tem mais importância. É tarde demais, a hora já passou, e agora que você aprendeu a andar com tanta excelência, não jogaria os esforços fora. Então você segue adiante, de novo. Só que, depois de tantos mil passos, você é vencido pela curiosidade e resolve ir até a beiradinha da ponte. Lá embaixo, além da névoa e das línguas-de-fogo, não houve mudança alguma. É quase como se você nem tivesse viajado por todos estes anos. Então você recobra o fôlego, logo em seguida cedendo à insensatez de uma gargalhada repentina.

Você percebeu a ironia.

Depois de dar meia volta, resolve refazer todos os passos. Desta vez para retornar a si. A ponte não ia a lugar algum. Ela somente ia, sem fim, poderia ter ido para sempre. Então, enquanto retorna, todas as sombras das vitórias passadas ainda te separando do começo, você determina o futuro: nunca mais ser desertor de si mesmo.
Ninguém é escapista da própria mente.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Quem acredita em fins é forçado a acreditar em começos.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Poderia dizer que somos barcos. Poderia até dizer que somos linhas. A metáfora não importa mais. Nós peregrinamos. Aprendemos por nós e através dos outros. Por vezes reconhecemos em pares aquilo que nem sequer havíamos descoberto em nós mesmos. Cada qual com seu caminho, cada qual com sua jornada. Os outros, os pares, amigos e amantes, às vezes são levados embora pelas suas buscas, seu orgulho, pela implacável correnteza de acontecimentos. Não existem motivos. Não existem finalidades, nada culmina a nada. A correnteza não espera, ela não conhece a paciência e nem a compaixão, assim como não simpatiza com a solidão ou o rancor. A correnteza simplesmente é. Ela traz e leva. Por mais que eu já soubesse, por mais que eu admitisse, eu relutava em aceitar. Mas agora aceito. Para reencontrar é preciso deixar partir.

sábado, 30 de abril de 2011

Ele a empurrou contra a porta. Ela, como reação às erupções que hesitavam irromper, levou-o ao chão. Rolaram pela sala de estar, o café derrubado sobre o tapete. Manchas e manchas. Cicatrizes, ele disse. Eu te odeio, ela replicou. Não são o que parecem, ele deu continuidade, não passam de mágoas e toda mágoa é levada embora pela água. Mas ela sentia que não choveria tão cedo. Nem sequer havia nuvens ao teto. Ele não enxergava o mesmo, mesmo o enxergar não sendo dele. Chovera, choveu, chove, choverá. Não minta para mim, ela suplicou. Não são mentiras, foi o que ele respondeu, são só verdades diferentes das suas. Ele suspirou. Sabia que era injusto. Ela recolheu os pertences, escondeu o rosto e abriu a porta. Olhou para trás uma última vez, por nostalgia. O olhar dele ainda não a queria ali. Ela inspirou profundamente e deu um passo. A porta ficou entreaberta. Apesar de sentir que não choveria tão cedo, não tão cedo era melhor que nunca mais. Ela sentia, ele pensava. No entanto, depois do furto de fôlego, agora era ela quem sabia. A maior injustiça seria não encostar a porta. Ela fechou-a, recobrou a coragem e se abriu para o que havia adiante. De cabeça erguida.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Só para concluir para completar
ou começar e talvez até mesmo para rir porque
mais vale ter motivos pra sorrir
que pra chorar então eu
me desdobro inteiro ao vento e
aguardo a brisa-transporte me carregar aonde for
e que seja de um jeito ou de outro
para enfim deixar a vírgula agir nesse ponto de exclamação.
Nada pela metade. Desde o início, tudo por inteiro. Sem mais frações, sem mais buscas, até o fim. Todos os fins. Tornar ao intacto sem deter-se em lutas, sem perder-se no caminho, sem deixar-se levar pelo pesar. Armando, entregando, entregando em guardanapos de cór, coração demasiado sóbrio.
Quando todo o oceano murcha em infinitas dunas de um deserto sem lembranças.

Pausa.

domingo, 24 de abril de 2011

Hoje eu não me sinto mais especial. Hoje eu olho para trás e tento entrever por um emaranhado de linhas obscuras o que deu errado. Hoje eu sento. Hoje eu penso. Hoje eu sinto o peso. Vou deixando todos os rios fluírem, fluírem por achar que fiz e faço o melhor, o melhor possível. Sou fiel aos meus sentimentos. Não deveria ser suficiente? Mas preciso lidar com a verdade. Agora não sou mais o menino que se transforma em beija-flor, nem a encantadora de mentes, nem o velho que tenta fugir da morte e muito menos a bailarina em queda livre. Todos em mim, juntos, e nenhum deles capaz de me ajudar. Está na hora de assumir o papel de protagonista.

Asfixia mas dá fôlego.
Consome mas nutre.
Estremece mas sustenta.

sábado, 19 de março de 2011

Laís diz:
meu
Laís diz:
tu deveria postar assim
Laís diz:
só ao broto lua pertence minha dama nua
Laís diz:
aehiouhaeoiuheaoiuheiaoheaiae
Laís diz:
eu to com essa frase na cabeça hoje




Depois dizem que eu sou o perturbado. O dia de hoje foi inacreditável. Obrigado a todos vocês.

quinta-feira, 10 de março de 2011

A gente poderia discorrer sobre uma história que vacila no concluir, ou poderia sofrer da condição de estar preso à luz de um farol distante, tão distante que nem seus olhos o vislumbrariam. O rumo seria sentido, apenas sentido. Se todo o destino estivesse contido na agulha, não haveria garantias que a bússola orientasse ao Norte. Direções e mais direções, fachos se abririam nos horizontes, os mirantes ascendendo do oceano aos montes, separados mas em uníssono. Sem saber qual lanterna atrairia o ponteiro, a embarcação lançaria a âncora à deriva e aguardaria até que os faróis decidissem por ela. Nem tornar o leme faria o relógio andar depressa. A gente poderia...

sábado, 15 de janeiro de 2011

Choveu, e ainda chove.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Tenho pensado sobre sementes. Elas são e não são. Poderiam, mas às vezes se negam a germinar. Em momentos geniosos, às vezes somos nós que forçamos seu desenvolvimento, obstinados a, mesmo sem saber, criar algo que nos fará mal ou que de nada nos pertence. Elas têm mais a ver com ideias, ideais e sonhos do que qualquer outra coisa. Das coisas que não são, os seres humanos são as que tendem a elaborar uma certeza vital de que a própria existência surgiu anexada a um propósito. Nem reles nem extraordinária, ainda que possa se encaixar em ambos. Curiosamente, mais uma vez tudo depende da percepção. Não mais tão surpreendente mas definitivamente ainda mais curioso é que, ao menos a mim, essa tal existência se construiu com tamanha complexidade que por vezes me sinto a criaturinha mais insignificante e sou tomado pela convicção de que tudo isso não vale nada, e, em contrapartida, por vezes assimilo os fatos com a tão desejada simplicidade. Cada segundo à sua maneira humilde. Dia por dia. O presente eterno, um breve adeus às náuseas da hostilidade, efemeridade. Por somente um instante, um instante apenas, paro para refletir sobre a improbabilidade de o meu existir. Sorte? Acaso? Uma absurda torrente de coincidências que me trouxe até aqui, isso sim! (Que te trouxe até aqui também, não se esqueça.) E a realidade continua a ser moldada pela nossa imaginação. Eu crio a minha, você cria a sua, assim por diante, até que juntos todos nós criamos e disso se inventa o resto. Eu crio a mim, você cria a você. Agora, se vierem me perguntar dos outros... Se ninguém pensou nisso até agora... pode ser que eles não façam parte das coisas que não são. Pode ser que eles sejam.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Só há pouco tempo descobri que ao invés de insistir em esquecê-las, evitá-las, ignorá-las, deixá-las se apagarem como um déjà vu de uma faísca mal incendiada, abortada e desbotada, devemos realçar as recordações, revivê-las e até mesmo reimaginá-las em uma grande moldura de cristal em que tudo o que se vê além do véu translúcido não passa de um reino de casualidades: um todo líquido em que passado, presente e futuro se reencontram.