domingo, 17 de julho de 2011


Uma vela boiava solitariamente por entre as ondas, coberta de trevas. O véu tempestuoso rasgava os céus em dois ou quatro ou quatrocentos pedaços de noite. Relâmpago. A despeito da má sorte, a vela continuava acesa. Não tinha escolha. Relâmpago. Maré alta; a praia já vacilava desaparecer no horizonte como uma linha acinzentada. E a vela acesa. Relâmpago. Mas nem os prantos da tormenta extinguiriam o fogo. Ardia inflamado pela valentia, obstinado. Embora ele e a vela soubessem muito bem que não se comparavam a nenhum farol, jamais desistiriam. Relâmpago. Continuariam acesos, iluminando, aquecendo, tentando, tentando e tentando afugentar a escuridão. Porque como tão bem sabiam de seu tamanho, sabiam bem demais qual era seu valor.


Que as palavras sejam velas ao mar.

Que vençam a noite.

Que, enfim, cantem de triunfo.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Então se fez o silêncio.
– ...
E as formas que antes entrevia, agora ele enxergava completamente. Não com os olhos propriamente ditos; não com estes globos que ainda carregava no rosto, espremendo-lhe o nariz. Dispensáveis. Mas sim com os olhos, os que recém descobrira ter. Bastavam-lhe.

domingo, 10 de julho de 2011

Sinto a vida pelo que penso ser o mais sensato, através da imaginação. Enfim fiz as pazes comigo mesmo, com o caos aqui dentro, com as probabilidades dementes. Razão e paixão se unificaram; é preciso saber por inteiro. A dor, não, não mais, porque nem ela me impede de admirar até mesmo nas madrugadas chuvosas e entregues à própria sorte o reflexo do sorriso que guardo a sete chaves. Eu aprendi a não dar de mão beijada tudo que tenho de bom. Sim, não só é preciso saber por inteiro como também é preciso dividir o intacto, e mantê-lo assim. Compartilhar sem perder. Por um momento, admito, gozar de algo tão sinistro como a dor me pareceu indiferença, como se o sentido tivesse se perdido ao longo das noites e nada mais fosse capaz de extrair qualquer tipo de sentimento de mim. Mas o erro está no verbo; sentimento não se extrai. Aqui dentro o sentimento se manifesta, flui e cria. E há consequências. Se é um passo que me aproxima do miolo, o mesmo passo me afasta do ruído estrangeiro. Não reclamo. Tudo para não ser um forasteiro da minha terra. Pois afinal, gente-fogo ou gente-água, fogo de água ou água de fogo, reconhecer a diferença entre a cachoeira e o lago é fundamental, ainda que ambos sejam transparentes.