segunda-feira, 15 de julho de 2013

Manchados de vermelho¹. As curvas do ano nos fazem derrapar e provocam acidentes, os mesmos (ele e aquele), pista molhada, freio fora de validade, sangue na calçada, quem vai limpar? O fato imaginado me faz derrapar e provoca acidentes, eu aqui ele lá, testa franzida, dia sem sorriso, quites, quem vai limpar? Balança esse cabelo sacode a fronha bate uma vez é mais que suficiente. Ele vem e logo vai mas será que volta? Tinha é que pegar a arma e descarregar na testa dos que franzem dos que mancham dois que se amam e já se dobram pra alcançar os lábios do outro, dele, eu aqui ele lá, se dobram pra ser eu e nós, desata logo isso porque tá apertado, cadê o nó de antes, o que não apartava, cadê? E os lençóis¹, quem vai limpar?

sexta-feira, 8 de março de 2013

verdade seja dita.
seguem soltas as correntezas e as águas entornam
águas, irmãs suas. elas,
as águas e as correntezas,
frequentam este manancial de imagens-atalho;
encurtam caminhos e,
verdade seja dita,
são elas mesmas caminho e peregrino.
pode um rio cruzar o oceano
e, ao chegar à margem de lá, continuar sendo rio?
verdade seja dita,
verdade seja dita...

terça-feira, 6 de novembro de 2012























Mergulho.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Há entre o jardineiro e o andarilho algumas diferenças cardeais. Um cultiva, o outro não, o outro é cultivado pelo mundo. Ao passo que este, a pé e vagaroso, atravessa com sua passada fronteiras, rios e convicções, aquele, entrementes, semeia e cerca sua horta, seu campo, nada maior nem mais vasto que a amplitude humana de seu olhar. Um pensa em regar o manjericão ou a salsa ou os tomates ou as azaleias ou o alecrim e deseja que, em troca gratuita e incondicional – assim acredita ele –, a horta ou o campo ou apenas a bromélia na beira da varanda lhe dê um pouco de ar, e que o pouco seja suficiente para regar seus brônquios. Assim é, reflete consigo, e assim continuará sendo. O outro não pensa e segue, segue solto, ignorante das ervas daninhas; vê nas trepadeiras mera possibilidade de escalar um muro, porque ele é trepadeira também e no fim não se importa com alcançar o topo, apenas quer por querer admirar o que há do lado de lá, e não foge, apenas quer por querer seguir; mas deseja  nem querendo escapa dos desejos –, em troca gratuita e incondicional – assim acredita ele –, que o mundo cuide dele. Não sei o que é, reflete consigo, e continuarei sem saber. O jardineiro está a um passo de desabrochar-se em andarilho e o andarilho é uma semente que, a despeito de Leste ou Oeste, pode, um dia, cercar.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

do que se diz sobre o delírio vale a pena
repetir que ele sufoca mas dá fôlego,
consome mas nutre, estremece mas sustenta;
acrescentar que arde ardido, mais ardido que a pimenta
e nos deixa tão-tão-contente em ser utensílio de quaisquer sentenças;
tateia no escuro e segue reto-sinuoso à penugem do pêssego,
porque o delírio, este delírio, aquele delírio,
 coisa que uns chamam de colírio e é digna rima de Helena 
inflama e tira um a um do sossegado sossego,
coisa que outros jamais experimentam;
combate a monotonia, combate,
combate a monotonia, combate,
combate a monotonia, combate,
e me deixa divagar devagar sobre o que vale a tinta da pena.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Disse, há cerca de um sol, que as palavras me pareciam insuficientes. A gente tem, também, nossas translações. Me pego de novo com aquela ideia de que as palavras, agora, não falam; eu as empunho aqui só pra demonstrar, entende? Em pessoa talvez fosse melhor mas tenho, incontestavelmente (você concorda), um jeito estranho e ao avesso de me expressar. Elas podem ser úteis... foi com elas que elogiei as tuas curvas e falei do embalo da nossa onda, e a onda ainda gira, gira não por hábito ou repetição do que poderia já ter-se tornado conveniente; não acredito que um giro tão violento e estimulante se mantenha por mera rotina. Não quero falar de amor e você sabe o porquê: aquele papo das palavras. Mas queria, se é possível, renovar o que, para mim, me fascina e é sempre fresco; queria, e possível  é, rugir e te dar a lua novamente.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Gosto do entardecer visto pela janela do banheiro. De ser lembrado. Mergulhar, de ressaca, no mar. Acordar, abrir a persiana e sofrer de cegueira momentânea. Gozar. Chorar. Gosto do que me faz mal e do que me faz bem, do que me dá prazer e do que me traz dor  há na dor também um tanto de prazer. De esquecer. Sentar, sozinho, na areia. Gozar. Rir. De gosto ruim não gosto – não costumo gostar. (Minto.) Partir gosto, dividir não gosto, ir sem ninguém gosto, acompanhado gosto igual, não gostar gosto, mas pode ser difícil gostar de gostar – ou gostar do que se gosta. Gosta? gosto Mesmo? às vezes Então, sim ou não? sim e não, ou não e sim, se assim preferir E o que acha? de? Isto ou aquilo, este ou aquele, o que preferir, não? isto, este É? aquilo, aquele É? sim, tudo Quanto? um tanto de tudo