sábado, 30 de abril de 2011

Ele a empurrou contra a porta. Ela, como reação às erupções que hesitavam irromper, levou-o ao chão. Rolaram pela sala de estar, o café derrubado sobre o tapete. Manchas e manchas. Cicatrizes, ele disse. Eu te odeio, ela replicou. Não são o que parecem, ele deu continuidade, não passam de mágoas e toda mágoa é levada embora pela água. Mas ela sentia que não choveria tão cedo. Nem sequer havia nuvens ao teto. Ele não enxergava o mesmo, mesmo o enxergar não sendo dele. Chovera, choveu, chove, choverá. Não minta para mim, ela suplicou. Não são mentiras, foi o que ele respondeu, são só verdades diferentes das suas. Ele suspirou. Sabia que era injusto. Ela recolheu os pertences, escondeu o rosto e abriu a porta. Olhou para trás uma última vez, por nostalgia. O olhar dele ainda não a queria ali. Ela inspirou profundamente e deu um passo. A porta ficou entreaberta. Apesar de sentir que não choveria tão cedo, não tão cedo era melhor que nunca mais. Ela sentia, ele pensava. No entanto, depois do furto de fôlego, agora era ela quem sabia. A maior injustiça seria não encostar a porta. Ela fechou-a, recobrou a coragem e se abriu para o que havia adiante. De cabeça erguida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário