sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O vento balança a saia da copa das árvores e a água se lança feito línguas ardentes numa tentativa já fracassada de lamber o tronco das tais árvores, em busca de um instante qualquer, final, carnal. Pois as ondas não as alcançarão e, inevitavelmente, vão desfalecer sobre o asfalto, onde, inquestionavelmente, serão levadas embora pelo mesmo vento que um dia as encorajou a alcançar o outro lado. Derramar-se me soa sensato: reconhecer que a gente não passa de um feixe de luz mergulhando, sem pressa nem propósito, no azeite. Pois não basta seguir no sentido contrário, muito menos se apressar. Pode ser, aliás, que nada baste, nem mesmo uma escolha sensata. Ignorasse a estridente mudez rotineira, estaria livre do estado ao qual recuamos – aqui, recuar não teria o sentido habitual de voltar para trás; não se contraporia a avançar, apenas significaria retornar ao começo, apenas retornar ao centro, que é, afinal, de onde partimos e de onde jamais partimos.

Um comentário:

  1. Cara, gosto muito do estilo como escreves, sério mesmo. vou acompanhar =)

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