sábado, 25 de junho de 2011

Sabe, às vezes parece que eu estava sempre de luto por alguma coisa, qualquer coisa, coisa nenhuma. E é claro que o luto é necessário. Luto por maus hábitos, hábitos que um dia foram bons mas hoje não servem mais. Mutantes. As vestes, de repente, não cabem, simples assim. O curioso vem com a partida do luto. Porque se prender a ele é tão fácil como tropeçar e, por um instante, ainda que um instante muito masoquista, desejar nunca se erguer novamente. São as dúvidas sussurradas pela sarjeta que nos enchem de nada, mesmo que a origem dos sussurros seja a incerteza de nossa própria natureza. Alimenta-se, de mãos vazias, o medo, íntimo e infinito. Mas quando, finalmente e muito obrigado, reergo-me para longe da boca gêmea e traiçoeira que a sarjeta pode ser, aquele tremelique dos cabelos aos pés, não há nada mais a fazer senão mirar o próximo encontro de avenidas e seguir naquela direção, passo a passo, com as pernas cada vez mais firmes, cabeça fria, o coração mais e mais pleno, e um espírito que já se tornou implacável mas flexível.

2 comentários:

  1. Me pergunto se o seu luto, seria o meu inverno.
    Não entendo o luto, assim como eu não entendo a morte. Eu sei algo de vago, talvez algo que eu tenha inventado, pois coisas eu já vi morrer.
    E é realmente fácil ficar preso nele, mas acho que nunca por capricho, mas por não conseguir enxergar alguma porta, que te leve a sair à rua, com o peito aperto, o sorriso pronto no rosto, com todas as coisas sob alcance.


    Obrigado pela visita. Também gostei do que li por aqui.

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  2. Pode ser que sejam mesmo correspondentes.
    E tão importante como enxergar a porta é criar coragem para atravessá-la.

    Eu que agradeço a visita.
    Um abraço

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